2009-05-27

Fora caminhando em passo apressado, dirigindo-se ao edifício largo e alto no qual rotineiramente entrara. Subiu as escadas depressa, como sempre o fizera, chegando ao segundo andar já um pouco fatigado. Entre folhas que levava na mão e sorrisos forçados que entoou aos que por ele passaram, abriu aquela maldita porta de vidro ainda a bafejar. Entregou os documentos, recebeu em troca um carimbo e veio-se embora, sem ripostar.
É bonita a vida, pensou ele, quando ao fim da tarde olhou para as árvores no horizonte...

2009-05-20

Política de gajo elucidado

Vocês vão-se mas é todos foder que eu, no dia das eleições, vou cavar em vez de votar, que sempre faço mais pelo país...

Política de falácia (ou humor à boa portuguesa)

Baixaremos os impostos conquanto que haja dinheiro para o fazer!

Política de mentira

Os cidadãos portugueses rejubilarão com a nossa eleição e melhorarão a sua qualidade de vida, uma vez que a culpa disto tudo é do Sócrates!

Política de verdade

As gentes vai a ver se ganháramos o nosso e put the friends on the jobs e os autros que se desemerdem!

2009-05-17

O novo quebra nozes

Ele há coisas que, dada a violência com que abalam o nosso quotidiano e a relevância que possuem no nosso futuro (até mesmo no daqueles que se sentem mais afastados de conceitos como o da “sociedade da informação” ou da “aldeia global”) não devem passar sem o devido alarde. Por vezes, pura e simplesmente sabemos que nada mais será como dantes.


Após uma tarde sentado ao sossego e ao sol, e tendo-me afiambrado a uma boa parte de uma má garrafa de William Lawsons 12 anos de um amigo, não saí à noite com a habitual e disfarçada esperança de que esta pudesse passar pelo incógnito, e acabei por ficar por casa.

Investi no sofá e rodeei-me de um livro, do computador e de papelada de trabalho. Naturalmente que, considerando o contexto etílico e a dormência encefálica daí decorrente, procurei também o comando e a minha escolha acabou por recair sobre a televisão.

Não dei o meu tempo por mal empregue. Assisti a parte de um programa apresentado por uma portuguesa, sobre gente, maioritariamente espanhóis, que dão o melhor de si numa tentativa de deixar marca no mundo. São feitos tão gratificantes para quem os leva a cabo – eles que após uma vida de esforço e dedicação tentam, por fim, estabelecer um recorde na actividade que se especializaram –, como são enriquecedores para quem assiste àquele empenho, ao empenho de homens como nós que sabemos não nos poderem desiludir – eleva-se a humanidade.

Há os que sobem paredes de motorizada, os que partem cocos à supapada, e os que num tanque cheio de água e dentro de uma canoa tentam dar o maior nº de voltas de 360º girando sobre si próprios, ora mergulhando, ora vindo novamente ao de cima.

Aparentemente as especialidades vão surgindo numa base quase diária e, com elas, candidatos sedentos de demonstrar todo o seu potencial e, quiçá, atingir o almejado título passando a pertencer à restrita elite que possui o seu nome inscrito no livro dos records do Guiness.

Foi num desses casos que, de seguida, fixei a minha atenção. Um homem iria tentar estabelecer o 1º recorde para o maior número de nozes quebradas, num minuto, com o rabo.

Após um pequeno período de estupefacção (não deixei que se prolongasse demasiado pois quis permanecer na posse de todas as minhas faculdades para assistir ao que aí vinha) vi um homem, espanhol, de cócoras, um a um, quebrando, sentando-se sobre os referidos frutos, que se encontravam dispostos no chão numa linha aparentemente tão interminável como o minuto em que tudo isto decorreu.

Exausto e exangue, o senhor, espanhol, terminou a prova, tendo sido validado pelo júri o tremendo número de 33 (trinta e três) nozes quebradas com a pélvis. O homem conseguiu e eu jubilei com o feito.

Pertenço àquela espécie provavelmente em vias de extinção, que possui apenas três canais sintonizados na televisão e uma outra coisa qualquer na 4ª posição da grelha. Penso, portanto, de forma cada vez mais séria aderir a um dos pacotes que, por apenas algumas dezenas de euros fornecem outros tantos canais conteúdos eventualmente tão apelativos como aqueles a que assisti. Estou a par da boa qualidade da programação (o programa de hoje ajudou a reforçar esta minha convicção) mas ainda assim acredito que devo manter a fasquia elevada. Sou assim. É uma questão de princípio.

Sou exigente no que vejo e fiquei saciado com aquilo a que hoje assisti. Ainda assim acredito que até nestes casos há margem para melhoria. E teria sido quase perfeito se o programa tivesse sido difundido ao som de uma suite de Tchaikovsky.

A neura do mês

Fico doente com esta merda. Passei uma hora de volta de um post que subitamente e a apenas duas linhas do fim, pura e simlesmente desapareceu. Puta que o pariu!!!!!!!

2009-05-09

Havia um homem que tinha o peculiar e inebriante hábito de usar um ceptro como bengala. Era um homem verdadeiramente cool, com um ceptro, também ele atrozmente cool! Feito de cortiça e ponteado com uma bola de argamassa cozida, o seu ceptro era um objecto único, capaz de fazer inveja a um qualquer lojista da Via Condotti, que certamente o desejaria como apetrecho para a sua montra. Este homem, como facilmente se poderia antever, transportava consigo o halo do poder, simbolizado aliás pelo referido ceptro. Era o líder incontestado do movimento cool power, o qual dominava o panorama ideológico de meados do século XXI, pelo que, a ele, todas as honras eram dirigidas.

Um dia, ao descer as escadarias da Piazza di Spagna, vestido de Kilt debruado de caroços de azeitona, com um padrão orgânico-fertilizante, ergueu bem alto o seu ceptro que, ao que todos diziam, exercia nos demais uma desmesurada capacidade hipnótica. Ao erguer o zingarelho rumo aos céus, as abóbodas celestes formaram um enigmático escrito que, principiando por ser turvo, rapidamente se materializou nas letras C-O-O-L-P-O-W-E-R. Sinteticamente, foi assim que, desse dia em diante, todos passaram a chamá-lo DEUS...

Efectivamente, em meados do terceiro milénio, a civilização que sempre conheceramos, sofreu uma forte e dramática mudança de enquadramento. Pela primeira vez na história dos mass-media, Deus estava vivo, usava um kilt e aparecia na televisão.

Pontualmente, ainda na primeira década do citado milénio, havia um indivíduo que escrevia umas patacoadas num blog, de forma a poder curar as insónias, pelo que ninguém lia os seus textos, por demais escusados, aliás...

Interessante seria entender o razoável nexo entre todas estas coisas. Repare-se, por exemplo, nos anéis de Saturno, essas deliciosas formas com as quais a natureza nos presenteou. Aliás, sejamos ousados: Alvanel! Gritemos alvanel rumo ao infinito como quem diz aleluia!!!

Paralelamente, o leitor menos atento, repara agora que o presente escriba o goza de forma hiperbólico-dadaísta, exercitando um pouco os músculos dos dedos, com vista ao sádico prazer de queimar as pestanas alheias em vão ...

Mas sejamos mais arrojados e tenhamos a coragem de nos despirmos e corremos para a varanda. Abanemos o pindricalho rumo aos céus e efusivamente gritemos em alto e bom som a palavra hematoma! Esperemos a resposta de uma pomba, que certamente virá em nosso auxílio com uma compressa em bico posta.

Não é bom?!? Claro que é!

Agora, voltemos pacatamente aos nossos afazeres. A ver se nos deixamos de ler blogues que não têm interesse nenhum...

2009-05-07

Filipa aderiu à rede de Susana, Susana aderiu à rede de Rúben, Rúben aderiu à rede de Sílvia...
Dasse!!! Quem adere à rede são os peixes...!!! Raio de merdas...
Andavam por aí a disparatar, ociosos que estavam nos seus percursos vivenciais. Foram fazendo o mundo à custa disso, sem que ninguém lhes pedisse contas ou a alguém tivessem necessidade de as prestar. Embalaram crianças sem lhes pesarem o desfecho. Venderam almas em sacos de papel, perecíveis como a vida que viviam.
Um dia, chegou o caos...
Uns puseram-se a cantar e a dançar. Os outros gritavam, bem alto, para que ninguém mais pudesse ouvir os seus silêncios.

Mais tarde, na amena prosa da história, sobre isto nada se disse. Uns foram recordados como heróis e conquistadores. Outros, sucumbiram ao esquecimento, como se nunca tivessem existido.