2010-07-06

Bacorada

Mais importante do que saber se o Ronaldo é pai ou não, se valeu alguma coisa como jogador de futebol durante o mundial, se o Queirós é ou não uma besta, ou se o Moutinho vale ou não 11 milhões de euros; mais importante ainda do que saber se o Ruben Michael, côsa má linda da mãe, vai ou não ser queimado como jogador;
Mais importante que tudo isso, é discorrer sobre as minhas experiências no reino dos bácoros! E atenção que não deixei de tomar banho, não é isso... Com efeito, e por mero acaso do destino, para além de, ultimamente, ter como vizinhas uma série de raposas e raposinhos, algo mais me tem perturbado que o mero latir desses sinistros bichos.
Ora eu, que, de certa forma, ainda adopto alguns costumes dignos de sua eminência, o Sr. de Neanderthal, de há uns tempos para cá vinha fazendo o esforço de me tornar uma pessoa civilizada, separando o lixo orgânico do demais, e enterrando o primeiro em copiosas covas por mim escavadas à enxada. Pensava eu (e aqui se afere a minha qualidade de pretenso homo sapiens) que, ao levar a cabo tão nobre actividade, reduziria o volume de lixo doado ao estado e, simultaneamente, contribuiria para o acréscimo de fertilidade do solo que, boçalmente, vou persistindo em trabalhar...
No entanto, quase que por magia, todas essas feridas por mim infligidas na terra (esta foi de poeta), apareciam, passados uns dias de terem sido escavadas, revolvidas e destituídas de todo o conteúdo orgânico que nelas depositara...
Persistindo naquilo que me aproxima do vulgar povinho e usando do saber que os ditos populares transportam e o Sr. de La Fontaine tratou de tornar erudito, passei a cojitar, às três pancadas e sem nada em que me pudesse apoiar, que a culpa era da raposa, esse maldito ser que, dissimuladamente, vai espalhando o mal pelas aldeias.
No entanto, e após um breve contacto com cerca de dez javalis bebés, occorido por volta das dez da noite de domingo passado, logo me apercebi que a culpa não era da raposa, mas sim do bacorinho.
Pelo que, entusiasticamente, aceitei esse facto com naturalidade, e, mais do que me considerar um bísaro, sou agora um bísaro no meio dos bácoros.
Dêem-me pérolas que hão-de ver o que lhes faço! :)

2010-05-25

Lagarto de água


Ao longo destes últimos anos tenho-me deparado várias vezes com o ser que acima se mostra. Aprecio-o severamente, embora a sua observação se torne difícil, dada a correria em que se põe ao mais pequeno vislumbre do ser humano.
Ora, espantado fiquei quando o vi, sem mais, escarrapachado na capa da visão desta semana. Então não é que o meu amigo corre perigo de extinção?
De qualquer modo, que fique descansado o sujeito porque, enquanto me for devorando os insectos prejudiciais ao cultivo das hortaliças e, portanto, tornado o ecossistema mais equilibrado, nada farei para o prejudicar, antes pelo contrário...

2010-05-13

Até há bem pouco tempo estes esquemas serviam, única e exclusivamente, para encher a caixa de spam...

Pois bem, hoje recebi esta alegre missiva por carta endereçada à minha morada e à minha pessoa, com selo e tudo, vinda fresquinha da África do sul...

Que bonito! (que isto anda)

2010-05-11

Papa a papa (cerelac?) erghhh...


Ela chegou!
Expressiva e astuciosa, eis que sua eminência se apresenta em itinerância por terras de Viriato e da Dona Lurdes da mercearia! A segunda, enfadada que tem estado num passado próximo, pela notória ausência de alguém que lhe compre os melões e a bela da nêspera, delira ao primeiro vislumbre de sua santidade, certamente ícone sexual para a classe dos (des)protegidos infantes... Kinder bomb!, Kinder Bomb!, you're a Kinder bomb! (grita o Tom Jones na rádio, ou algo que o valha...) Dona lurdes, essa, só tem pena que ele não tenha vindo à janela...: " É um santo homem!, vê-se logo que é quem é!, Deus o ajude e proteja nos momentos de aflição!", vocifera o ainda arquétipo da "nacional mulher de bem"!
A poucos metros de distância, no aconchego do anonimato, um jovem amante do reino dos vegetais faz perpetuar um escrito na eternidade, fecundo das auspiciosas ideias que lhe vão pela alma... Sob a forma de papel enrolado, qual rei mago a espalhar incenso, Berzebú, como é conhecido no Bairro do Vatikinder, apregoa a sua mensagem a quem o quiser ouvir, contemplando o fausto que à fronte se lhe esbarra. Cenas man! (grita desalmada e intermitentemente) Cenas! O people a dar importância ao chavalo, um gajo que parece que veste fraldas e camisas de dormir todos os dias... Tá mal man!!! O chavalo havia era de ir lá ao bairro pra ver o que o people curte..., assim não fazia estas figuras... Vai-te embora óh retro-bicha! Já tinhas idade pra usar cuecas em vez de fraldas...
Simultaneamente e à mesma hora, João, moço desinformado e pouco atento ao que de importância se apregoa pela nação, comia um misto e bebia um galão, ignorando o alvoroço que se gerava nas antenas de rádio e cabos de fibra-óptica espalhadas por este buraco fora, ao qual eufemisticamente vamos chamando país europeu, vulgo Portugal... Enquanto pensava no trabalho que o esperava e urdia de antemão planos para o fim de tarde, para si a parte mais importante dos dias, enfim, uma razão de viver, Jõao era bombardeado pelas ondas de rádio e sinais de tv... Por todos os lados se ouviam comentários à elegância dos élficos chinelos rubros e do quão estética era a sinestesia crianda entre eles e a passadeira que abaixo lhes deslizava. Por todo o lado se alcovitavam motivos para desenferrujar as cordas vocais e o absurdo que, pensava, só para ele era nítido... Sob o fardo da indigestão, João apressou o esófago e rapidamente o regou a laivos de sucedâneo anfetamínico. Deixou o poiso onde poisara, trabalhou, correu para o sonho e, até dormir, não existiu para ninguém que não para si e para os seus... Para João, sua eminência nem cá esteve... E que inveja lhe tenho!

2010-05-05

Do sobrenatural

Se há coisas que me deixam o suporte capilar em modo náusea, uma delas é a crença, mais ou menos fundada, em coisas do além, fenómenos, esses, que têm como natural subespécie a categoria do milagre...
Como é sabido, sua eminência, "Lady Ratzinga", tenciona visitar brevemente as terras de Viriato, ou as de Guladim Pais, ou as dd Martim Moniz, ou o que quer que seja, que isto da história, não raras vezes, também se insere no capítulo da náusea ao suporte capilar.
De qualquer modo, e dado o esoterismo do fenómeno religioso, quem bem que vinha a calhar o facto de uma núvem de cinza, envida por Deus ou pelo Diabo (não interessa), cobrir o espaço aéreo português, de forma a que fosse possível evitar que mais uma decadente personagem histórica conspurcasse aquele que, por si, já não é um país muito sadio no que toca aos sujeitos que o povoam...
Lixavam-se os funcionários públicos e a sua "bendita" tolerância de ponto", mas beneficiavam as gerações vindouras, dado o natural desincentivo à pedofilia que tal cancelamento acabaria sempre por acarretar.
Que é como quem diz, antes à cinza ceder que ver o país a arder...

2010-04-27

Ah e tal e vivemos em sociedade e devemos ter alguma ética por forma a manter a coesão dos bichinhos e coiso.
Pois bem, eu dessa enfermidade não padeço, não quero padecer e, mais, tenho nojo a quem dela padece! Já foi chão que deu uvas, como diz o outro...
Este ano, nem um cêntimo de impostos vou pagar, ganhando já mais que o ordenado mínimo (chulado ao estado que é bom!) e exercendo uma profissão que, vistas bem as coisas, não tem qualquer utilidade... Pouca riqueza distribuo, preferindo antes concentrá-la em mim próprio, pelo que, sem modéstias, serei porventura um indivíduo eticamente odioso, da pior casta que existe. Pior, sinto-me muito bem com esse papel e até me arrogo ao direito de, as mais das vezes, desfrutar de alguma felicidade!
Quanto ao restante pessoal, o da ética verdadeira (ou seja, ninguém) e o da ética dissimulada (ou seja, os pseudo-moralistas-comezinhos), um desejo de muitas estátuas a perpetuar as suas eternidades no mundo, que eu cá prefiro contar que vá para debaixo da terra!
(desabafo originado pelo rejúbilo sentido aquando do meu contacto cibernáutico com a dgci em 2010)

2010-04-14

Carícias Malícias

Sexta-feira passada saí à noite. O feito, em si, não tem nada de especial, e não irei sugerir ao atento leitor que se agarre bem à cadeira em virtude do alucinante relato que segue. Não. A noite foi entediante qb., e bastante semelhante a muitas outras que me têm levado a preferir a bricolage às incursões nocturnas pela cidade.

Saí do purgatório, fardado a rigor como em qualquer outro dia, e já em Lisboa sequestrei a casa de um amigo para trocar de roupa e me parecer ligeiramente mais com um ser humano.

Deixei o carro estacionado, fumei e antecipei coisas más pelo caminho, e acabei por chegar à praça onde tínhamos combinado o encontro.

Eu e os meus colegas de curso fazemos isto frequentemente. Combinamos uma jantarada (eles, mais resolutamente do que eu), bebemos uns copos (eu, em menor medida do que eles), queixamo-nos um pouco do trabalho, recordamos momentos dos antigamentes, insultamos os que não apareceram e procuramos um sítio para prolongar a noite.

Desta vez, a escolhida foi uma caixa de música no Cais do Sodré, onde um dj aparentemente meritoso, passava a música que havia de extasiar o resto da troupe e de me obrigar a mim, por fim, a recorrer ao álcool. Nestas alturas os copos servem dois propósitos: o da tolerância psicológica e o da intermitência física. O primeiro, toda a gente já o experimentou em alturas de menor predisposição para o que está a acontecer à nossa volta – bebe-se um pouco e, se a coisa der para o lado certo, ainda acabamos por nos rir um pouco. O segundo, é particularmente útil nos períodos em que os risos e sorrisos teimam em não surgir e se vai queimar uns minutos até a um bar apinhado – aparece-se e desaparece-se de ao pé dos foliões e espera-se que o próximo copo seja finalmente capaz de alinhar os espíritos.

Mas foi assim o resto da noite e o álcool pouco ajudou. Muita música má, muito bailarico e pouco estímulo.

Acabei por fazer as despedidas e decidi meter-me a caminho do cacilheiro, pois ainda que o meu espírito não estivesse alinhado com o dos meus parceiros, não o estaria certamente o da polícia.

Tirei bilhete, sentei-me na sala à espera do embarque, tirei umas fotos com o telemóvel e assisti durante meia hora às coreografias das gentes jovens da margem sul, até que os portões se abriram desimpedindo o acesso ao cais – aguardei um pouco, deixando passar em primeiro lugar os mais impacientes e saltitões, e levantei-me com o último terço da manada.

Estava no início da descida, caminhando em paço lento e vazio, quando senti uma mão acariciando-me a nuca. Em décimos de segundo pensei poder tratar-se de alguém meu conhecido com instintos furtivos e um desejo ardente; de um desconhecido que me tivesse confundido com o alvo da sua líbido; ou, mais provavelmente, de um rapaz com aspecto jovial à procura de alguém para uma sessão de estalada antes de ir dormir.

Foi esse o tempo que demorei a direccionar a minha cabeça e a encarar, por fim, uma grande negra que me olhava atentamente.
- Então,? gostas de mim? - perguntei com entoação querida e dengosa.
- Acho-te engraçado… - respondeu, não devendo nada ao meu afecto.
E assim fomos os dois, de braço dado, passo lento, descendo a rampa até ao barco que nos aguardava.

E não é que foi o melhor diálogo da noite?

2010-04-11

Atentado bombista deflagra na internet! Veja mais em: http://www.cifras.com.br/traducao/frank-sinatra/my-funny-valentine

2010-04-09

É interessante chegar à cama com a cabeça em roda! Em primeiro lugar, porque "em roda" é a força motriz do mundo; em segundo lugar porque, quando menos se espera, a Rosa, essa grande maluca, arredonda a saia; embora nada disso nos interesse por agora, até porque o silêncio se impõe quando nada de interesse se tem para dizer. No entanto, e contrariando o paradigma da utilidade, no esboçar de um texto que se impõe porque sim, cabe dizer, de uma forma peremptória, que o importante é ser feliz! E cabe dizê-lo contrariando aqueles que acham que ser feliz:
  • É chato porque se está estagnado;
  • É bronco porque se está emperdigado;
  • E é boçal porque se está embrutecido...
Nada disso meus caros Antónios e Mairas, nada disso... É bom (ponto); é aquela converseta dos outros das motas (vulgo easy rider); é o que faz despertar a inveja alheia; é a capacidade máxima que se tem para botar sentido na roda que anda à roda... E amanhã é o que se foda, pois foda bem fodida é a que se dá e não é mentida! (óh Aleixo, desculpa a ordinarice...)

E depois vêm os padres a dizer e coiso que o correcto é coiso e existe o mal que é pecado e a indulgência impõem-se e bora lá todos dançar na discoteca que é escura como as trevas e igual ao inferno que se vive porque somos todos importantes para impressionar o mundo com o estatuto (óh palma deixa lá os clichés...).

E faz bem se a coisa for gay, leia-se alegre (sem perdizes nem cartuchos que, por aqui, é-se pacifista), com urros descomprometidos como se todos os dias fossem o hoje que eternamente se lembra por ter sido aquele único (momento dispensa-se porque é implícito) e isto já é escrita automática e dizer de nós faz bem porque sim!
Ãnh?!? Textual, a síntese! Essa coisa de poetas, não é? Dasse...; raios os partam com a mania dos catálogos, que já não leio desde os dias da simbiose em que eles faziam músicas como se fizessem meninos... E porquê, perguntam?; porquê isto?

Porque é lindo e faz uma redoma à volta do menino e é quiloze de mízetíco (leia-se místico), embora, para ser verdadeiro, possa dizer apenas que não tenho sono e as palhinhas do menino para mim só tenham interesse enquanto matéria orgânica, vulgo estrume...

Estou ébrio e contente! Que é como quem diz, não me dói o fígado embora já possa ter dado alguns erros ortográficos, os quais, em consciência, me fazem doer a gastro-coisa. Como, por ora, a consciência está longe de mim (leia-se novamente "estou ébrio"), só amanhã porventura talvez que é como quem diz coiso me doerá a gastro-coisa...

Agora como há muitos anos (tipo o refrão da cantiga):

"A gastro-coisa é uma coisa muito bonita! Nela nascem malmequeres selvagens e se põe o sol ao entardecer. Na gastro-coisa há algas verdes de esperança de uma dia não andar na cadeirinha com a tigela alada a recolher a baba que se me faz pela menina com as carnes firmes e sequiosas dos prazeres que hão-de vir. Como se prestidigitar fosse um meio para alcançar a eterna melancolia PERFEITA com que se sonha (um bocado taradeco agora, diga-se). E a gastro-coisa às vezes dói de doer sentido em fúria (doce, sempre doce), porque é bom o doer da gastro-coisa (ponto).

E com isto adquiri um sem número de expedientes que me fazem ter força para entoar o manguito ao próximo (porque quando não se conta não há desilusões - vai-se aprendendo...) e deliciosamente desfrutar dos aromas da solidão, naquele lugar comum que é desejar ter cabelos brancos e as carnes flácidas (mais do que agora) e encarar tudo isso com a naturalidade de quem entende que a sensualidade está no espírito e a secura de sentimentos é fértil num olhar que se forme espontâneo e natural!

Que é como quem diz: Sereníssimo?, Sapientíssimo? E os outros todos?
Saraband ao mundo, que o Bergman veio cá com esse propósito messiático que ainda escapa aos olhos de alguns!

(E não, não estou irremediavelmente frito nem tenho o fígado a desfazer-se, são só três ou quatro horas por mês e faz bem e quem achar que não faz que se foda)

2010-04-06

Longo mas vale a pena:

http://www.ted.com/talks/lang/por_br/chimamanda_adichie_the_danger_of_a_single_story.html

2010-04-02


A propósito disto: Oh Quizilol, estarei enganado ou foi a ti que eles avistaram?

2010-03-26

Conselho


2010-03-08

Ora aí está um emprateiro de muros de pedra! É de aproveitar!

2010-03-05

Mulheres fogem nuas após roubar estrume

Duas mulheres fugiram nuas após roubarem estrume de uma fazenda na localidade de Eberholzen, no norte da Alemanha. Segundo informações divulgadas pelo diário online Metro nesta segunda-feira, elas pretendiam usar o excremento para fabricar bombas.
As duas invadiram a fazenda na noite da última quarta-feira, dia 25, e começaram a encher meias com estrume. No entanto, uma delas escorregou enquanto recolhia o material.
"Uma delas escorregou no tanque de estrume, direto no lixo das vacas. Ela precisou da ajuda da companheira", disse um porta-voz da polícia local.
Após o acidente, elas teriam abandonado as roupas. "Nós encontramos as roupas em um descampado. Aparentemente, uma delas fugiu totalmente nua e a outra estava com as roupas íntimas".
De acordo com as autoridades, não está claro se o roubo tem ligação com as comemorações da vitória da Alemanha pela Eurocopa no mesmo dia.
O mais natural perante esta notícia (publicada aqui) é que o leitor se indague acerca da sua veracidade. É certo que a mesma não é nenhuma novidade em primeira mão, mas, ainda assim, e contra todas as expectativas, não se trata de nenhum texto esquecido do Cesariny ou do Duchamp. Com efeito, trata-se tão somente de um acontecimento bizarro, cuja análise se impõe.
Decomponhamos a notícia:
  • Duas mulheres fugiram nuas;
  • após terem roubado estrume;
  • Mais, pretendiam usar os referidos excrementos na fabricação de bombas.

Estão a ver onde quero chegar? Ainda não?

(Irra que o leitor é burro!) Mais um bocadinho:

  • Houve uma delas que escorregou enquanto recolhia o material;
  • Ao passo que a outra teve que a ajudar;
  • Após o que terão abandonado as roupas;
  • Havendo o justo receio de que todo o imbróglio se devesse à comemoração de um jogo de futebol.

Já perceberam ou é preciso fazer um desenho? Ainda não?

Tudo bem, se não perceberam quer dizer que ainda mantêm alguma lucidez... Este post não passava, enfim, de um teste à saude mental dos leitores do blog...

2010-03-04

É só fumaça

Hoje fez-se greve. Coisa que nos últimos tempos tem sido tão rara como chuva.
E eu, naturalmente, tive um súbito desejo de inutilizar alguns minutos do meu tempo tentando lembrar-me que grupos de assalariados não têm recorrido a esse instrumento. De vez em quando gosto de fazer destas coisas - nada melhor do que uma série de elaborações espúrias para desentupir a canalização. Não é que faça questão em ser artista, mas lá dizia o Torcuato Luca de Tena que "el arte es la ciencia de lo inútil", e portanto lá terei os meus méritos. Tê-lo-ei eu, como o terão algumas centenas de pessoas que fazem da assembleia da república a maior galeria de arte do país.

Verborreia aparte, foi precisamente isto que me levou a lembrar-me da classe política e de que já lá vão uns bons 35 anos desde que um primeiro-ministro português levou um governo a suspender-se a si próprio. E eu, que estou convencido de que estamos tão carentes de mais políticos profissionais como de abcessos, dei-me ao trabalho de ir buscar um filmeco de outros tempos.

Dizia o homem qualquer coisa do género: “Se os funcionários públicos fazem greve ao trabalho, o governo faz greve aos funcionários públicos” – ora embrulhem lá.

São pérolas minha gente! São pérolas!



Almirante Pinheiro de Azevedo, primeiro-ministro de Portugal em pleno PREC. Um estranho homem que não apreciava ser sequestrado.

2010-03-03

Esta coisa

A propósito do texto anterior, não sei bem porquê, veio-me à memória esta coisa:

Esta coisa é um livro que recordo das estantes da minha casa desde que me lembro de existir; esta coisa foi por mim folheada várias vezes ao longo da vida; esta coisa foi a obra (desculpem o eufemismo) que formou (desculpem novamente o eufemismo) sexualmente muitas pessoas da geração dos meus pais; esta coisa, acrescento, bem poderia (caso eu não fosse um indivíduo dado à mundividência e ao empirismo) ter comprometido seriamente as minhas possibilidades de ser uma criatura feliz...

Nesta coisa há pérolas, a saber:

  • O escorrimento vaginal de uma mulher é facilmente evitável tendo certos cuidados, tais como não pôr os pés no chão frio (que isto de uma pessoa se lavar é para meninos);
  • Uma mulher que queira ser feliz deve casar com um homem que não seja bêbedo e um homem que queira ser feliz não deve casar com uma mulher que não saiba cozinhar;
  • Não ejacular dentro da vagina de uma mulher é uma prática bastante desaconselhada, até porque o supremo objectivo do sexo será sempre a procriação.
  • O coito interrompido é, por si só, nefasto. É como assistir a uma peça de violino em que, na nota final, o músico parte o arco, o que sem dúvida deixaria no espectador um grande amargo de boca.

Tudo isto são ideias que recordo vagamente, até porque nunca tive a coragem de retirar este evangelho do púlpito em que sempre o vi. Mas desde já prometo que, um dia destes, citarei em directo para este blog os textos sagrados.

Até lá, uma última questão:

Esta coisa merece ser lida, mesmo que na televisão esteja a dar o programa dos gato fedorento?

Claro que sim! Esta coisa, para lá de conter pérolas é, ela própria, uma ostra!

O processo mental de uma pessoa é um bicho sem dúvida estranho. É curioso pensar porque surgem em nós determinadas ideias, mas muitas vezes, mais curioso ainda, é tentar intelegí-las. Seria tudo mais fácil se pudéssemos dizer ao outro (pressupondo que a ideia implique um outro), aquele filme ou aquela música; aquele livro ou aquela recordação; falar claro com imagens abstractas, por assim dizer... Seria tudo bem mais fácil se as conversas deslizassem eternamente, sem necessidade alguma de concretizar os conceitos, de os inteligir... Aliás, esse acto, o do inteligir, é quase como o preservativo a meio do sexo: previne a possível doença, ao mesmo tempo que atenua a possível magia...

2010-02-25

;as recordações

;as desilusões

;as consagrações

;as penitências


se fosse, só e apenas, o filho da puta do instante...!

2010-02-24

E se não guardássemos?

2010-02-22

Se, de "Cândido" a "O Ingénuo", a diferença estilística é pouca ou nenhuma, haverá, no entanto, algo que retirar relativamente ao conteúdo, a saber: O Voltaire era um gajo extremamente infeliz...
Bastaria a leitura de "A minha mulher" do Tchékhov para que a mensagem de "O Ingénuo" fosse rapidamente desmistificada... Mas não seria preciso chegar tão longe... Para um aristocrata como Voltaire, dotado de infindáveis meios de subsistência, uma amena conversa com o Senhor Bertrand Russel poderia facilmente orientá-lo na conquista da felicidade!
A final, uma única conclusão: A sociedade, a puta da sociedade e as suas malditas e odiosas regras!

2010-02-12

Medocracia

Ainda hei-de escrever sobre isto.

http://www.publico.pt/Sociedade/um-suicidio-no-trabalho-e-uma-mensagem-brutal_1420732

2010-02-01

Há quase uma semana que não saio de casa. Vou tossindo alternadamente, ora na sala, ora no quarto, espalhando pelos recantos da casa uma manta de micróbios que, associada a uns esporádicos mas afectuosos puns, sempre vai dando para aquecer o ambiente. Esta é aliás uma preocupação economicista a que me vi obrigado desde que a lenha se me acabou e a saúde me retirou as forças para cortar mais alguma. Aquecedor a varetas? Enfim, tretas!
Para não falar no episódio em que liguei para a linha de saúde 24, no qual me senti ameaçado, perseguido e devassado pelo governo, aproveito para falar do quão bom é fazer calos no dedo a jogar playstation... Vai-se lendo, vêm-se uns filmes, escrevem-se umas bujardadas bem medidas para entregar em repartições públicas e, acima de tudo, contempla-se o tecto e o reflexo amarelado da sua esquadria, muito parecido ao de um palácio que vi um dia na Alemanha, onde supostamente se assinou o Tratado de Versailles, no qual o raio do príncipe fumava 60 charutos por dia... Só lhe falta a pompa, porque a pátine tabagística está lá!
Adiante: Beringelas!

2010-01-31

Aviso à navegação

Com a entrada em vigor de um certo acordo, para lá de, por estas bandas, se continuar a escrever mal e porcamente, sobre assuntos que não interessam nem ao José Saramago, avisam-se os leitores que se passarão a dar erros ortográficos em barda, embora tal fato, resultante de uma introspeção extremamente ideossincrática, ser total e concretamente intencionado.

Bom senso

"(...) o senhor ordenou a Abraão que lhe lhe sacrificasse o próprio filho, com a maior simplicidade o fez, como quem pede um copo de água quando tem sede, o que significa que era costume seu, e muito arreigado. O lógico, o natural, o simplesmente humano seria que Abraão tivesse mandado o senhor à merda, mas não foi assim."

In: "Caim" de José Saramago

Pensamentos de homem dos bosques II

"Até o filósofo chinês tinha saber suficiente para considerar o indivíduo como a base do império. Será a democracia, tal como a conhecemos, o último melhoramento possível do acto de governar? Não será possível dar-se mais um passo no reconhecimento e na organização dos direitos do homem? Não haverá estado realmente livre e esclarecido, enquanto o estado não reconhecer o indivíduo como poder suerior e independente (do qual deriva todo o poder e autoridade que o estado detém) e enquanto não o tratar como tal. Dá-me prazer imaginar um estado que possa finalmente fazer inteira justiça aos homens e tratar os indivíduos com respeito, como os vizinhos entre si. Sem se convencer de que atentam contra a sua tranquilidade os homens que dele se distanciam, os que não se intrometem nos problemas dele, os que não se deixam dominar por ele, os que cumprem todos os deveres da boa vizinhança e da boa camaradagem. Um estado que fosse capaz de produzir esse fruto e concordasse em deixá-lo cair no chão assim que ele estivesse maduro abriria caminho a um outro estado ainda mais perfeito e glorioso, que eu por sinal também já imaginei, mas que ainda não encontrei em parte alguma."
In: "A desobediência civil" de Henry David Thoreau
Serve a presente citação para evidenciar que, de facto, a anarquia e o liberalismo enquanto sistemas políticos estão extremamente próximos. Talvez a anarquia seja uma espécie de "liberalismo ético", ou o liberalismo uma espécie de "anarquia ética". De qualquer modo, que se foda isso, porque hoje há ídolos na sic...

2010-01-19

Pensamentos de homem dos bosques

"As crianças que brincam a viver discernem, com mais clareza que os adultos, a verdadeira lei da vida e as suas relações, enquanto estes fracassam sem conseguir vivê-la condignamente, embora pensem que a experiência, ou seja, o fracasso, os tornou mais sábios."
"Se a pessoa já se familiarizou com o princípio, que importam os inumeráveis exemplos e aplicações? Para um filósofo, todas as chamadas novidades não passam de bisbilhotices e as pessoas que se encarregam de editá-las e lê-las, não passam de velhinhas a tomar chá."
In Walden ou a vida nos bosques de Henry David Thoureau

2010-01-15

A propósito deste "baile" que o Inverno nos vai oferecendo, aproveito para dizer que, enquanto se tiver um bom fígado, le monde va de soit même!