Ao nascer fora ensinado a jogar a bisca pelos melhores. Sabia de antemão os trunfos que restavam e os pontos que faria, pelo que, com alguma naturalidade, irremediavelmente saía vencedor de todas as partidas. Era um jogo simples, mas talvez a catapulta para algo maior, futuro adivinhado, pensava, nos momentos de prestidigitação...
Cedo se fartou de um jogo tão banal e, cedo também, deu os seus primeiros passos no xadrez, que todos lhe apregoavam como máximo estádio no que à arte de jogar diz respeito. Aprendeu vários movimentos e, calculando as jogadas com léguas de antecedência, rapidamente se tornou um exímio jogador, capaz de destronar os melhores e mais experientes adversários dos seus faustosos tronos.
Algures a meio do seu existir, fartou-se de frívolos raciocínios sistemáticos, repetidamente destinados ao mero entertenimento. Foi então que decidiu jogar o jogo da vida.
Iniciou-se nesta arte como se iniciara nas predecessoras, tentando, primeiramente, descobrir as regras, para depois, pensava, definir as estratégias que o ajudariam a contorna-las. Inesperadamente, descobriu que agora jogava num interminável campo sem balizas ou linhas de fundo e que o cardápio do existir era mais extenso e longo que os anos que lhe restavam.
Deixou-se de jogos e, pela primeira vez desde que nascera, viveu!
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