2009-12-06

A insustentável sustentabilidade do ser

Quando, nos momentos de desnecessidade intelectual, dou comigo a pensar no estado do país, chego a enigmáticas conclusões…
Deparo-me com uma nação em que um terço das pessoas, mediata ou imediatamente, trabalha para o estado, sejam eles funcionários públicos, quadros de institutos públicos, empresas municipais, associações, fundações, ou políticos propriamente ditos.
O outro terço é constituído por alguns “mileuristas”, mão-de-obra qualificada e esclarecida, obrigada a trabalhar o suficiente para não ter tempo de pôr o sistema em causa e a ganhar apenas o quanto baste para alimentar o predecessor terço e as próprias empresas que lhes dão trabalho.
Quanto aos demais, técnicos de construção civil afortunados pelo facto de poderem desfrutar da mine enquanto trabalham, desempregados, pobres e oprimidos, inválidos e reformados…

Haverá talvez uma pequena minoria que produz realmente algo… São eles os operários das empresas cujo tecido económico está desajustado às regras do mercado e, por isso, desempregados em perspectiva. E aqui, naturalmente, incluo os agricultores.

E depois, continuando a gozar das possibilidades que o ócio me traz, uma vez que sou um dos últimos profissionais liberais deste país, minoria nem sequer quantificável, pergunto a mim mesmo:
*Será que o estado pode alimentar o estado?
*Será que um país pode prosperar sem produzir nada?
*Será que amanhã vamos ter o que comer?

À primeira pergunta respondeu-me o valor do actual défice orçamental, à segunda respondeu-me o valor do actual défice da balança comercial e à terceira, quiçá, responder-me-ia o valor do actual défice da pirâmide etária.
No entanto, à cautela, e não querendo acreditar no raciocínio falacioso de quem diz que, como seremos menos, haverá mais para todos, vou-me fiando mais nas palavras de Garcia Marquez e do seu coronel, aquando da pergunta de sua mulher sobre o que iriam comer amanhã:
Comeremos merda meus caros!!!

Ps: Parece que a criminalidade subiu 16% nos últimos dois anos, o que, embora se revelando positivo para o meu labor, uma vez que faço parte dos que não produzem nada, me obriga a retirar uma ilação de tudo isto: Quando as pessoas não tiverem o que comer, ninguém acredite que elas vão trabalhar ou sequer seguir os passos do coronel… Nesse sentido justifica-se uma adenda ao que acabou de se dizer:
Comeremos o que roubarmos meus caros!!! (e não é o que já fazemos?)

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