2009-05-17

O novo quebra nozes

Ele há coisas que, dada a violência com que abalam o nosso quotidiano e a relevância que possuem no nosso futuro (até mesmo no daqueles que se sentem mais afastados de conceitos como o da “sociedade da informação” ou da “aldeia global”) não devem passar sem o devido alarde. Por vezes, pura e simplesmente sabemos que nada mais será como dantes.


Após uma tarde sentado ao sossego e ao sol, e tendo-me afiambrado a uma boa parte de uma má garrafa de William Lawsons 12 anos de um amigo, não saí à noite com a habitual e disfarçada esperança de que esta pudesse passar pelo incógnito, e acabei por ficar por casa.

Investi no sofá e rodeei-me de um livro, do computador e de papelada de trabalho. Naturalmente que, considerando o contexto etílico e a dormência encefálica daí decorrente, procurei também o comando e a minha escolha acabou por recair sobre a televisão.

Não dei o meu tempo por mal empregue. Assisti a parte de um programa apresentado por uma portuguesa, sobre gente, maioritariamente espanhóis, que dão o melhor de si numa tentativa de deixar marca no mundo. São feitos tão gratificantes para quem os leva a cabo – eles que após uma vida de esforço e dedicação tentam, por fim, estabelecer um recorde na actividade que se especializaram –, como são enriquecedores para quem assiste àquele empenho, ao empenho de homens como nós que sabemos não nos poderem desiludir – eleva-se a humanidade.

Há os que sobem paredes de motorizada, os que partem cocos à supapada, e os que num tanque cheio de água e dentro de uma canoa tentam dar o maior nº de voltas de 360º girando sobre si próprios, ora mergulhando, ora vindo novamente ao de cima.

Aparentemente as especialidades vão surgindo numa base quase diária e, com elas, candidatos sedentos de demonstrar todo o seu potencial e, quiçá, atingir o almejado título passando a pertencer à restrita elite que possui o seu nome inscrito no livro dos records do Guiness.

Foi num desses casos que, de seguida, fixei a minha atenção. Um homem iria tentar estabelecer o 1º recorde para o maior número de nozes quebradas, num minuto, com o rabo.

Após um pequeno período de estupefacção (não deixei que se prolongasse demasiado pois quis permanecer na posse de todas as minhas faculdades para assistir ao que aí vinha) vi um homem, espanhol, de cócoras, um a um, quebrando, sentando-se sobre os referidos frutos, que se encontravam dispostos no chão numa linha aparentemente tão interminável como o minuto em que tudo isto decorreu.

Exausto e exangue, o senhor, espanhol, terminou a prova, tendo sido validado pelo júri o tremendo número de 33 (trinta e três) nozes quebradas com a pélvis. O homem conseguiu e eu jubilei com o feito.

Pertenço àquela espécie provavelmente em vias de extinção, que possui apenas três canais sintonizados na televisão e uma outra coisa qualquer na 4ª posição da grelha. Penso, portanto, de forma cada vez mais séria aderir a um dos pacotes que, por apenas algumas dezenas de euros fornecem outros tantos canais conteúdos eventualmente tão apelativos como aqueles a que assisti. Estou a par da boa qualidade da programação (o programa de hoje ajudou a reforçar esta minha convicção) mas ainda assim acredito que devo manter a fasquia elevada. Sou assim. É uma questão de princípio.

Sou exigente no que vejo e fiquei saciado com aquilo a que hoje assisti. Ainda assim acredito que até nestes casos há margem para melhoria. E teria sido quase perfeito se o programa tivesse sido difundido ao som de uma suite de Tchaikovsky.

2 comentários:

Peter-Plane-Pane disse...

1º - Também faço parte do lote de "infelizes" que apenas têm 3 canais e meio...

2º - É evidente que, o que perdem as pessoas desse lote, tem um valor incalculavel...

3º - Esse senhor do bailado podia ganhar a vida a dar workshops de "como fazer calos no rabo".

4º - Já dizia o outro que eles começam pelas nozes até que chega o dia em que... Enfim, há que ter cuidado...

Saudações pouco cool vindas de uma terra nada cool! :)

Quizilol Prepeles disse...

Não há nada que o diga, mas também não me esforcei por o esclarecer, e o vilipêndio à TVI dá azo a essa interpretação. O programita foi visto na SIC.
Salvé

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