2009-08-24

Deitei-me por volta da meia noite e acordei à uma e meia da manhã com o barulho dos carros que passavam, de estereofonia à solta, entoando clássicos dessa pútrida banda que dá xutos (suponho que na veia) e pontapés (tralvez na gramática?)...

De tão furioso que estava, peguei no Jogador do Dostoiévsky e li-o numa penada, prontinho para o banho às oito da matina.

Recordo uma ideia: É sabido pelas pessoas inteligentes que o cerne da amizade reside exclusivamente na humilhação...

Este Dostoiévsky tem rasgos de pura genialidade. Se fosse o Rui Costa contratava-o já para o Benfica!

2009-08-22

Dos regimes socialistas e da sua génese

Explicando de forma pormenorizada o que pretendi dizer e até porque agora nos tratamos na terceira pessoa o que, inequivocamente demonstra alguma da minha irascibilidade benfiquista, passarei a alongar-me na questão da falta de produtividade associada aos regimes de nacionalização do capital.

Repare no seguinte exemplo:

O trabalhador A demora 2 horas a produzir uma utilidade económica, enquanto que o trabalhador B demora 4. Numa situação destas, aplicando o princípio socializante, digamos assim, que perfilha que cada qual trabalhe consoante as suas capacidades e a cada qual seja atribuído o que lhe impõem as suas necessidades, teremos que:

1- Ambos os trabalhadores trabalharão incessantemente.

2- Mesmo que ao trabalhador A lhe sobre tempo por já ter saciado as suas necessidades terá que continuar a trabalhar para perfazer as dos restantes (os menos produtivos).

3- Mesmo que o trabalhador B não produza o suficiente para fazer face às suas necessidade, as mesmas seriam sempre preenchidas pelo trabalho alheio.

Digamos que, numa sociedade em que o capital seja nacionalizado e em que, digamos, a lei do menor esforço esteja vedada por imperativos sociais, a meritocracia estaria sempre arredada. A não ser que aos mais produtivos se atribuísse uma qualquer condecoração meramente simbólica, obrigando-os ainda assim a dispor do super-avit laboral de que dispõem para satisfazer as necessidades alheias.

De qualquer modo, repare, as definições que aponta de meritocracia, são apenas explanações psicológicas do conceito que, de modo algum, traduzem o seu cerne político, já que é de um regime social que tratamos.

Posto isto, veja mas é se acaba com as suas silvas em 3 ou 4 dias, que eu, por mim, acabaria com elas numa tarde! :)

Grande abraço! :)

2009-08-21

Das muitas coisas que aprecio no Benfiquismo, a sua forma contagiosa de irascibilidade (por ventura maior que a da própria gripá) com que presenteia quem dele padece, é seguramente aquela que mais me diverte.

Dito isto, e abandonando os temas papoilo-saltitantes, gostaria de dizer-lhe o seguinte:
Tenho dúvidas que seja uma verdade incontestável que “em regime de liberdade dos mercados, uns e outros vão moderando as suas ambições, por forma a encontrarem um ponto de encontro que torne possíveis as suas compras e vendas”. Precisamente porque se mantém subjacente à sociedade e, quanto a mim, virtualmente indissociável da sociedade, a lei do menor esforço, porventura ligeiramente distinta do princípio hedonista que ao prazer contrapõe o sofrimento e não o trabalho. Ainda assim, na substância estamos de acordo.

E estamos de acordo precisamente porque a lei supracitada, a tal que considero subjacente e eventualmente indissociável da sociedade, está também subjacente a ambos os significados que atribuí ao conceito de meritocracia.

Se quiser, por outras palavras, os significados de meritocracia expostos traduzem por um lado, [1] a vontade da aplicação da meritocracia face à impossibilidade da (desejada) aplicação da lei do menor esforço e, pelo outro, [2] a inconsequente defesa da meritocracia como meio de alinhamento social uma vez que a lei do menor esforço é aplicada mas não pode ser assumida.

Dispenso-me a comentar a sua razão inversa que, confesso, não consigo descodificar.

Quanto à questão bibliográfica, gostaria apenas acrescentar anchovas.
"(...) o princípio hedonístico, ou lei do menor esforço, insere-se frequentemente nos quadros económicos. Mas a sua raíz é psicológica, traduzindo a tendência do homem para obter a maior soma de satisfações com o menor sacrifício possível. As próprias leis da concorrência e da oferta e da procura, situadas no centro das teorias económicas, constituem ainda reflexos da tendência psicológica hedonística. Os vendedores procuram vender aos mais altos preços. Os compradores querem comprar aos mais baixos preços. Em regime de liberdade dos mercados, uns e outros vão moderando as suas ambições, por forma a encontrarem um ponto de encontro que torne possíveis as suas compras e vendas. (...)" in Economia Política - Soares Martinez, Almedina 1996, págs. 35 e 36.
"A susceptibilidade dos bens económicos satisfazerem necessidades designa-se por utilidade." in op. cit. pág. 105.
Analisando o conceito de acto de produção, temos que: "(...) constituirá acto de produção aquele que trone um objecto útil, ou aumente a sua utilidade. É um acto de produção, do ponto de vista económico, o acto criador de bens desejados, o acto criador de riqueza." in op. cit. págs. 400 e 401.
Nesse sentido, a meritocracia está para os produtores de utilidades económicas na razão inversa em que a falta de produtividade está para os defensores de sitemas autoritários (vulgo socialistas) baseados na nacionalização do capital...
Quanto ao conceito de meritocracia, apenas acrescentar que a bibliografia do "pastor" é medíocre e errónea, embora neste momento não consiga encontrar os meus volumes de ciência política do Sr. Jean Touchard, de forma a lhe poder dar um bom safanão nas orelhas... Que é como quem diz, vai às cabras pá e não chateies! :)

2009-08-20

Meritocracia

Meritocracia, [1] s. f. Forma de gestão defendida por quem está ciente da sua inaptidão social para atingir os seus objectivos de carreira com recurso ao mínimo de trabalho; [2] s. f. Forma de gestão socialmente defendida por quem, sendo socialmente apto para atingir os seus objectivos de carreira com recurso ao mínimo de trabalho, está ciente da importância social de o negar.

2009-08-19

Quando se vai ao cinema sem expectativas, às vezes o filme, que até nem é grande coisa, fica gravado na memória. Quando se vai ao cinema com expectativas, só as obras primas podem satisfazer... É uma espécie de bipolaridade gustativa...

Ontem fui ao cinema com expectativas... saí de lá a entoar mentalmente a música do Marco Paulo... e não foi bom...

2009-08-13

Recordações da adolescência

Fui um aluno bastante bom até aos meus 14, 15 aninhos, altura em que, tendo-me apercebido que a cerveja era bem mais eficaz que a água e que o papel não servia só para escrever, mas também para criar canudos com verduras lá dentro, passei a ser um tanto ou quanto displicente no que aos meus estudos diz respeito.
Recordo com especial saudosimo a disciplina de latim, que amei desde o primeiro momento. Aliás, ainda hoje não percebo como alguém poderia considerar tal disciplina entediante, ou até mesmo difícil... Lembro-me que tinha aulas de duas horas, das quais saía cronicamente ao fim de cinco minutos, com vista à requisição de um dicionário na biblioteca, bastante semelhante ao que deixara em casa por conveniente lapso. Por ironia do destino, apenas aparecia a cinco minutos do fim da segunda hora. O latim era fácil, pensava eu...
E era!, senão vejamos:
- O teste das duas melhores alunas rodava sempre até ao meu lugar...
- A tradução de português para latim, não encerrava qualquer segredo, que é como quem diz, "traducione per latini, segredus nenhumo encerae". Aliás, no que a este capítulo diz respeito, sempre me achei dotado. As coisas fluíam, sei lá... Talvez daí o meu desdém por aqueles cromos que se fartavam de magicar declinações... Declinações?!? Raio de merdas... Para que é que isso é preciso, quando o nosso instinto é por si só declinatório?!?
- No que diz respeito à tradução de latim para português, recordo com especial carinho o episódio em que, no exame nacional de décimo segundo ano, escrevi a prodigiosa frase: "O ervilha levava a bala na bandeja de prata, para que, com ela, os cães enjaulados desfrutassem." Tá-se mesmo a ver que isto é coisa para Homero dizer, não? O 3,4 que me atribuíram, após esforçado recurso no qual a minha própria explicadora se recusou a colaborar, lá deu 4, o que, aliado à minha frondosa média interna de 12, serviu o mágnifico desiderato do belo do nove e meio!
E tudo isto para enunciar uma magnífica asserção:
Serei eu um nato macho latino?
(ou pelo contário um mero dançarino?)
Nos próximos capítulos: Peter plane pane foge da polícia, montado numa scooter com mais dois gajos tão ébrios como ele, à vertiginosa velocidade de 40 kh, acabando por ter um acidente na gravilha que se encontrava na estrada.

Lirismo

Tem cuidado com a vacança, óh senão cresce-te a pança!

enunciação não taxativa

O que mudou a seguir às férias:

-Finalmente faz calor a sério (ena!, que bom que é ser pessoal da segunda quinzena do mês da matrícula amarela!).
-Sinto-me fofo, que é como quem diz, "não percas uns quilos não, que qualquer dia nem com as costas podes...".
-Tenho vontade de acordar cedo e ir trabalhar (coisa que, quase aposto, apenas durará entre 2 dias a 2 semanas...).

O que não mudou a seguir às férias:

-Continua a dar uma série sobre strip na sic.
-Ao contrário do que inicialmente pensara, após ter lido as cidades invisíveis, não me sinto uma pessoa melhor (facto que prestigiditei após a leitura das primeiras dez páginas, ou "que trampa de livreco").
-Vivo num sítio de merda, com pessoas feias e asquerosas, que, de cada vez que dizem algo, me fazem lembrar ornitorrincos regorgitantes, embora, ainda assim, me sinta feliz por, vivendo neste cú do mundo, ter um sítio onde cavar e cultivar os meus enormes tomates!

2009-08-10