2009-02-02

Havia um homem que forrava os bolsos de histórias e memórias. Não tinha nada, apenas bolsos e histórias e memórias. Era por todos apelidado de homem mau.
Um dia, o homem mau ouviu uma história que não quis guardar. Era uma história sobre um homem mau que forrava os bolsos de histórias e memórias. Quem lhe contara essa história fora um homem bom.
O homem mau, imbuído na maldade que arrecadara em histórias e memórias, logo levou as mãos aos bolsos, deles retirando uma história que demonstraria ao homem bom que este não tinha razão.
O homem bom não acreditou e, subitamente, começou também ele a procurar a razão nos bolsos. O homem bom não tinha bolsos, pois que não a encontrou.
Sacudiu a cabeça, augurando a razão algures perdida no meio da careca. Soltaram-se-lhe alguns cabelos, embora a razão parecesse ter sido roubada pelo último piolho que lhe povoara a já extinta cabeleira.
Nesse instante, pensou o homem bom pegar num machado e separar a cabeça em dois, num escavar mais profundo do que a mera busca superficial lhe permitiria.
Instintivamente, escolheu o homem bom não o fazer.
A razão estava encontrada...
Desse dia em diante, o homem bom remendou bolsos às calças, não mais deixaria de guardar histórias e memórias.

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