2009-02-22

Petit Gâteau com sorbet de limão

Perdoem-me o vernáculo, mas fode-me aquela gente que, de tão só, procura desesperadamente reconhecimento no seio de um grupinho insípido de gente também verdadeiramente só… mas fashion. Perdão, gourmet.

É, de resto, o processo subjacente a esta forma de vida. Viver pelo reconhecimento e não pelo gosto das coisas, sejam elas simples ou complexas. Buscar incessantemente o elitismo pela incapacidade de gerar empatia com quem vive sentindo. E na ânsia de dar sentido a uma (in)sensibilidade anormal encontra-se aí a evidência de que sendo diferente do outro não se pode senão ser mais do que este.

Mas não deixa de ser necessário sentir.
Sentir…?
A cultura gourmet não é mais do que a tentativa de criar uma teoria de prazeres sensoriais… requintados. E nenhuma teoria procura mais do que explicar, atribuir um sentido credível a um determinado fenómeno. Compreendo. É portanto necessário encontrar as leis base de um processo que não sendo espontâneo ainda assim se pretende perseguir. Assim faz esta gente com os exóticos e requintados prazeres da vida porque os simples não lhes saem de forma natural (e assim sendo, isso não pode ser senão coisa plebeia). Como é óbvio, é necessário tentar emprestar uma linguagem aparentemente credível para justificar predilecções perfeitamente idiotas.

É esta a gente que espera o mais recente e inútil estrageirismo para o utilizar sofregamente de forma a evitar pronunciar as palavras utilizadas pelo povo – não vá confundir-se com ele, porque o povo é matéria disforme no seio da qual o requinte não faz qualquer sentido.

Afinal as elites comem risotto de camarão porque arroz seria ultrajante. Acompanhá-lo com um bom vinho branco não chega. Tem que ser um esplendoroso vinho branco e convém que seja um “late harvest” de 2004, contido numa garrafa desenhada por um “designer” de renome. Como é óbvio, é quase tão fundamental que seja caro como é fundamental que os outros saibam disso. Não interessa conhecer outros vinhos porque se os convivas quiserem falar do tema, seguramente ficarão satisfeitos em saber que foi recomendado por um amigo que, para além de profissional brilhante aos 25 anos, tem um sobrenome do qual já todo o país ouviu falar. E interessa gostar de vinho? Claro que não! O que interessa é saber que está classificado como “gourmet” porque a habituação ao sabor há-de vir por si. Fode-me aquela gente que faz do vinho motivo de reconhecimento e não de memória.

Desconfio que grandes fortunas se farão quando alguém, movido por um espírito empreendedor, ou melhor, entrepeneur, começar a o verdadeiro “enchido gourmet” que, claro está, será fumado em madeira proveniente da baixa pombalina. Será uma tremenda oportunidade de negócio no nicho gourmet uma vez que cumpre todos os requisitos de uma iguaria bem sucedida – saborosa, sofisticada, rara, cara… e profundamente idiota. De resto, e excluindo a classificação de “saborosa”, estes são adjectivos perfeitamente passíveis de ser utilizados se quisermos definir esta elite.

É esta a gente que no final do dia não encontra melhor remédio para uma existência tão patética do que uma bela sessão de choro e a redenção sob a forma de fluoxetinas. Vidas verdadeiramente glamourosas.

1 comentário:

Peter-Plane-Pane disse...

Seu grande "cóne de mère"!!! Sentir é para os fracos, ouviu?

E já agora informo que no fim de semana comi umas "joues de porc grillées dans la bois de medronhe qui est brûlé dans un incindie d'a six ans". Portanto, inegávéis os prazeres da lenha vintage!

Se quiseres uns cepos de medronho carbonizado arranjo... Até podíamos arranjar um negócio de distribuição para o restaurante do Engenheiro Bento dos Santos! Ouvi dizer que o gajo dá refeições a muitos juízes e escumalha do género! Primeiro seduzíamo-los pelas fragrâncias carbonizadas, o passo seguinte era o envenenamento! :P

Grande abraço! :)

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