2009-02-01

Incendeia-se numa mão o consumível túnel do vício, como que pedindo à outra um esbanjar de palavras na branca folha, também ela combustível da paixão assolapada, químico desejo heterónomo do conosco reencontrar. Incendeia-se o sol, como peruca vegetativa de áureos pensamentos, arremessados à vedação do mundo que pensamos em nós não ter limite visível. Julgamos o espectro do horizonte, as quiméricas formas do distante luar, irrisória nascente que enche o caudal do generoso rio que nos consideramos. Simultaneamente, desmarginamos rumo ao infinito oceano de truculentas formas magistrais. Nadamos voltados a um tépido e incandescente bosque, áureo também ele no minério que nos perscrutamos. Faltam-nos barbatanas, máscara, óxigénio abundante. Deitamos mão à escamosa toca que logo fazemos cobrir a própria floresta pensante. Impedimos a vegetação de nascer. Foramos levados a acreditar no biológico sistema das torrentes. Sabemos. Sabemos claramente. Vemos dúbios horizontes em florestas queimadas que já não nascem. Infirmamos o eu da natureza celeste numa mina fechada. Matraqueamos ecos, barulhos, caprichosos escavares violentos. Mentimos cores no ilusório arco-íris da vida. Não é ouro, é sol. Seria sequer rio, mas mero depósito fictício de água turva, desinteressante, impotável à natureza circundante. É charco. Movediço charco. Há ondas, no mar. Há tempestades, ciclones, remoínhos do total. Podemos até andar sobre a água das marés, não duvido. Hei-de plantar uma árvore no oceano e alimentá-la de sal. Digo dissera que faço. Penso, ainda penso.

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